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segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Reflexão-17 - Sobre a Esperança !

Esperança significa o quê ? De verdade, sem chavão, qual a definição de esperança ? É difícil falar sobre esta verdade da teologia.

Nietzsche espezinhou a esperança. Dizia mais ou menos o seguinte : “ter esperança é postergar o dever que exige ação para o agora”. Nesse sentido, concordo com ele. Eu também não desejo uma "virtude" que camufle a covardia. E com a minha idade, já não creio nesse tipo de esperança.
Também concordo com Norberto Bobbio sobre o andamento da História (assim, com maiúscula).

Em uma entrevista, Bobbio disse que depois de testemunhar duas guerras mundiais, achava-se incapaz de perceber no futuro próximo, algum "sinal visível de que a História se encaminhasse para uma plenitude feliz". O entrevistador insistiu : “Em que é que o senhor deposita suas esperanças, professor ?”. A resposta veio cândida : “Não tenho esperança alguma. Como leigo, vivo em um mundo onde a dimensão da esperança é desconhecida”.

Também não tenho esperança de que a indústria bélica seja desmontada para que se fabriquem tratores, arados, foices e enxadas. Os gastos com armamentos permanecerão altos. O teatro de guerra pode até deixar de requerer porta-aviões monumentais, ogivas nucleares com poder letal de acabar com o planeta várias vezes. Os estrategistas vão transferir suas atenções para as favelas estreitas e sujas do Oriente Médio. Mas os orçamentos militares vão consumir muito dinheiro.

Também não tenho esperança de que haverá melhor distribuição de riqueza entre as nações. Por mais que cresça, o bolo da prosperidade nunca será dividido solidariamente. A geopolítica colonialista, que desgraçou com a América Latina e África, permanecerá intocada.
Também não tenho esperança de que a brecha tecnológica, que separa as nações desenvolvidas das atrasadas, se estreitará. Pelo contrário, as grandes potências continuarão colecionando Prêmios Nobel, investindo em pesquisa genética e fabricando robôs de altíssima precisão. E os pobres respirando o ar fétido dos esgotos a céu aberto e bebendo água com coliformes fecais; para morrerem cedo.

Vaclav Havel defininiu esperança como “ânimo de lutar não porque vai dar certo, mas porque vale a pena”. E Chico Buarque de Holanda acertou no alvo quando traduziu do espanhol, uma das músicas da ópera “Don Quixote de La Mancha” : Sonhar Mais um sonho impossível, Lutar quando é fácil ceder, Vencer o inimigo invencível, Negar, Quando a regra é vender, Sofrer a tortura implacável, Romper a incabível prisão, Voar num limite improvável, Tocar o inacessível chão. Minha lei, é minha questão, Virar esse mundo, Cravar esse chão, Não me importa saber se é terrível demais, Quantas guerras terei que vencer, um pouco de paz, E amanhã, se esse chão que eu beijei for meu leito e perdão, Vou saber que valeu delirar, e morrer de paixão, e assim, seja lá como for, Vai ter fim a infinita aflição, E o mundo vai ver uma flor brotar do impossível chão.

Minha esperança também se parece com o pensamento do rabino Jonathan Sacks. Não aceito “o status quo como vontade Divina”. Minha esperança é uma espécie de “fé, na qual Deus convida os seres humanos a se tornarem seus parceiros no trabalho da redenção, a construírem uma sociedade baseada na justiça e por todos percebida como tal“.

Portanto, a única esperança que acolho, resiste, semeia, fermenta, bate de frente com o sistema, advoga o direito das crianças, socorre os idosos, visita os encarcerados e devolve visão aos cegos.

(Soli Deo Gloria)

Pr Ricardo Gondim
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Pr Eduardo Silva

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